February 17, 2025

Meet the Founder - Antônio Gouveia, founder e CEO na Flashed

By Thiago Favero, EVCF Fellow

“ É tipo, antes de vender sua startup, é aquela história: é ruim, mas é bom. A hora que você vende, é bom, mas é ruim.”

Antônio é serial founder e atualmente Founder e CEO na Flashed, Edtech que hoje se propõe a ser o “duolingo do ensino médio” - Criando o jeito de aprender que o Século XXI exige! Foi founder na Gira, Agfintech com exit para o Santander em 2021.


Thiago: Antônio, obrigado por compartilhar sua trajetória conosco. Você sempre teve um espírito empreendedor. Como começou essa jornada, desde os primeiros negócios até a Gira?


Antônio: Tudo começou aos 13 anos, vendendo queijos feitos com leite que seria desperdiçado na fazenda da família e já aos 16, precisei me emancipar para comprar parte da loja do meu avô. Ainda na faculdade, um pouco antes de ser um caso de dropout, fundei a Reprodez, uma startup de gestão reprodutiva bovina. Vendíamos planilhas de Excel para veterinários, mas escalamos para mais de 200 mil vacas cadastradas em vários países. No entanto, o mercado ainda era resistente à tecnologia, foi como tentar evangelizar pedras. Depois criei uma fábrica de software para desenvolver MVPs, mas a Gira surgiu como um chamado e uma oportunidade para resolver um problema real: a falta de segurança no crédito rural.


Thiago: A Gira foi vendida ao Santander em 3 anos. Quais foram os desafios e aprendizados dessa trajetória? E como os investidores contribuíram além do capital?

Antônio: A Gira nasceu para estruturar garantias e conectar o mercado de capitais ao agro. Começamos automatizando operações de crédito para empresas como Bayer e Basf, mas o marco foi criar o primeiro CRA com garantia pulverizada do Brasil — algo tão inovador que o Ministério da Agricultura nos convidou para ajudar a redigir leis. Sobre os investidores: captamos com um “anjão”, que não só aportou recursos, mas abriu portas estratégicas na indústria. Depois, o Cedro Capital trouxe governança e credibilidade. Já nascemos como uma sociedade anônima com balanço auditado, porque sabíamos que a transparência seria crucial para atrair grandes players. Quando o Santander apareceu, estávamos negociando outra rodada, mas o timing foi estratégico. Vendemos porque percebemos que a limitação de crescimento viria do acesso a recursos em um cenário de incertezas (2020 com covid).


Thiago: Após o exit, você passou 3 anos no Santander. Como foi essa transição? E quando decidiu que era hora de empreender novamente?

Antônio: Trabalhar em uma corporação foi um choque cultural com mudanças de paradigmas. É tipo, antes de vender sua startup, é aquela história: é ruim, mas é bom. A hora que você vende, é bom, mas é ruim.

Na startup, como founder, você controla tudo e toma decisões muito rápidas; em uma empresa de 45 mil pessoas o jogo é outro, tem decisão que precisa do aval de outro país. Aprendi sobre processos complexos e gestão em escala, mas sentia falta da agilidade. No final do último ano de earnout, em 2023, vislumbrei a explosão  que a IA iria causar num intervalo de cinco anos. Percebi que, se não entrasse na onda da inteligência artificial naquele momento, perderia uma janela única. Queria algo que impactasse milhões de pessoas. E resolver problemas que até então eram insolucionáveis.


Thiago: Na criação da sua nova tese antes de empreendedor de novo quais foram os principais pontos que te nortearam? Já estava claro que queria empreender com educação?


Antônio: na verdade não, a decisão foi norteada por quatro pilares que eu levantei para elaborar a tese. Primeiro: não podia ser fintech nem agro. Já tinha experiência nesses mercados e queria um desafio novo. Segundo: precisava ter impacto social direto, ou E, ou S, ou G (ESG), acredito que as decisões de consumo serão tomadas com base nesses princípios. Terceiro: mercado "não sexy", ou seja, muito problema e pouca gente boa pra resolver. Quarto: problema global, mas que eu poderia validar em um bairro qualquer de Uberlândia, minha cidade. Cheguei em duas teses: seguro de vida e educação. A Flashed surgiu nesse processo: melhorar a experiência de aprendizado e criar uma ferramenta que “ensine qualquer coisa para qualquer um”. Então tivemos de escolher um mercado por onde começar, e decidimos que o melhor seria com alunos do ensino médio, para depois escalar para outros mercados.


Thiago: Do agro à educação: a Flashed já alcançou 100 mil usuários. Conta um pouquinho pra nós da tese e como suas experiências anteriores contribuíram para esse sucesso rápido?

Antônio: A Flashed nesse momento tem um posicionamento como "Duolingo do ensino médio" com mais personalização do aprendizado. Usamos IA para adaptar o conteúdo ao perfil psicológico do usuário e montar seus planos de estudo. Se você aprende melhor com exemplos de futebol, a física é ensinada assim; se prefere música, ajustamos tudo. A experiência prévia me ensinou a importância de validar hipóteses antes de escalar. Por exemplo, mantivemos o time pequeno e focamos em métricas de retenção desde o início. Além disso, juntamos um time técnico e muito voltado para o produto. Um sucesso muito legal de compartilhar foi  uma escola em Pernambuco que adotou a Flashed como modelo oficial, depois que virou uma febre entre os alunos organicamente.


Thiago: Você mencionou orgulho da equipe. Como eles contribuíram para o sucesso da Gira e agora da Flashed?


Antônio: O time é o coração de tudo. Na Gira, o Bernardo, foi meu braço direito toda jornada, foi essencial — ele é um Tech Lead genial e estou muito feliz de contar com ele de novo na Flashed como cofounder, topou essa nova aventura na primeira ligação. Trouxemos recentemente o Raphael Rosa, ex-head de growth do Zenklub e estamos montando um time robusto e com a ideia de ficar enxuto, com no máximo  8 pessoas, focadas em executar rápido e evitar burocracia. É importante ter perfis distintos mas todo mundo com cabeça de produto e experiência do usuário.



Thiago: Quais são os planos para a Flashed? E qual é o seu grande sonho, tanto para a empresa quanto pessoalmente?


Antônio: Para a Flashed: Queremos ser a plataforma global de aprendizado personalizado. Em 2024, focamos em expandir no Brasil — e já estamos em 8 países de língua portuguesa. A Flashed não é só um negócio; é uma ferramenta para democratizar o acesso à educação de qualidade. Meu sonho é ver um adolescente no interior do Brasil ou um idoso no Japão aprendendo algo novo porque a Flashed entendeu exatamente como ensiná-los. Para mim: Quero ser útil para a humanidade enquanto ainda tiver energia, já sou muito feliz.