December 8, 2024
By Thiago Favero, EVCF Fellow
"O principal aprendizado é que sua carreira é sua responsabilidade. Diferentemente de outros setores, no Venture Capital não há um manual de como crescer."
Cibelle Higino é Investment Associate na Wayra/Vivo Ventures, braço de Corporate Venture Capital (CVC) do Grupo Vivo, que investe em startups no Brasil e no exterior. Formada em Contabilidade pela Universidade Federal do Paraná, Cibelle começou sua carreira em Venture Capital na Honey Island Capital, onde desempenhou um papel central no crescimento do fundo. Com uma carreira inteiramente dedicada ao VC, ela liderou o GT de Research no Emerging VC por dois anos e compartilha aqui sua trajetória, aprendizados e perspectivas sobre o mercado.
Thiago: Como foi sua jornada profissional até aqui?
Cibelle: Eu sou formada em Contabilidade, mas durante a faculdade percebi que não era exatamente isso que queria fazer. Comecei minha carreira em consultoria, onde trabalhei por cerca de um ano e meio, mas a grande virada foi quando entrei na Honey Island Capital como a primeira funcionária. Na época, era uma operação muito pequena, praticamente eu e uma sócia, mas tive a oportunidade de participar do crescimento da gestora desde o início. Ao longo de quatro anos, vi o fundo crescer de R$ 6 milhões para R$ 100 milhões em ativos sob gestão, e o portfólio passar de 4 para mais de 15 startups. Foi uma experiência intensa e desafiadora, mas muito rica, onde aprendi a abraçar todas as etapas do processo de Venture Capital.
Desde 2022, estou na Wayra/Vivo Ventures, o braço de inovação da Vivo, que combina a atuação mais exploratória da Wayra com o foco estratégico da Vivo Ventures em novos negócios. Aqui, além de originar e analisar investimentos, tenho o desafio de trabalhar com os objetivos estratégicos de uma grande corporação, algo bem diferente da experiência em um fundo independente.
Thiago: Quais são os principais aprendizados que você daria para quem está começando no Venture Capital?
Cibelle: O principal aprendizado é que sua carreira é sua responsabilidade. Diferentemente de outros setores, no Venture Capital não há um manual de como crescer. É uma pirâmide, onde nem todos vão avançar, mesmo em times pequenos e altamente qualificados. Por isso, é fundamental estar em constante evolução, buscando aprendizado além do horário de trabalho. Isso pode ser através de cursos, leitura de relatórios, networking ou participação em eventos. Hoje, há muita informação disponível sobre o mercado, mas cabe a cada um se aprofundar e compreender os conceitos técnicos e estratégicos que sustentam as decisões de investimento.
Além disso, é importante entender o impacto do trabalho no ecossistema. Não se trata apenas de retorno financeiro, mas também de estimular inovação e promover soluções que impactem positivamente o mercado. Ter clareza sobre esses objetivos, aliado a uma postura de aprendizado contínuo, faz toda a diferença.
Thiago: Como o Emerging VC contribuiu para sua trajetória?
Cibelle: O Emerging foi uma experiência muito marcante para mim. Comecei a participar durante a pandemia, em 2020, o que foi ótimo porque, sendo de Curitiba, eu não senti tanto a distância física que normalmente existe no mercado de São Paulo. O programa me conectou com profissionais que estavam em momentos de carreira semelhantes ao meu, enfrentando desafios e aprendendo juntos.
Além disso, o networking que construí no Emerging gerou impactos diretos no meu trabalho. Lembro de um caso específico em que uma empresa investida pela Honey Island conseguiu captar recursos de um fundo que eu conheci em um evento do Emerging. Foi uma conexão simples, mas que resultou em um investimento muito importante. Essa troca de experiências e a criação de uma rede de apoio foram cruciais para o meu desenvolvimento.
Thiago: Quais foram os principais desafios e diferenças ao migrar de um fundo independente para um CVC?
Cibelle: A principal diferença entre trabalhar em um fundo tradicional e um CVC é a existência de múltiplos objetivos além do retorno financeiro. No CVC, o alinhamento estratégico com a corporação é tão importante quanto os ganhos financeiros. Isso significa que nem sempre investimos na oportunidade mais rentável, mas naquelas que trazem sinergia ou valor estratégico para a empresa.
No caso da Wayra e da Vivo Ventures, há uma divisão clara: a Wayra é mais exploratória e agnóstica, enquanto a Vivo Ventures tem um foco específico em novos negócios alinhados à estratégia da Vivo, como serviços financeiros, saúde, educação, energia e casa inteligente. Apesar de ser desafiador, trabalhar em um CVC oferece uma perspectiva única, pois permite acompanhar de perto como grandes corporações estão se reinventando através de investimentos em inovação.
Thiago: Qual sua visão sobre o mercado de Venture Capital no Brasil nos próximos anos?
Cibelle: Estamos começando a ver uma recuperação no apetite por rodadas maiores, o que é um sinal positivo, especialmente após o "inverno" que o mercado enfrentou nos últimos anos. No entanto, o fundraising continua sendo um desafio. Muitos fundos que captaram em 2020 e 2021 ainda têm recursos para investir, mas aqueles que precisam captar agora enfrentam um cenário mais difícil.
Acredito que o mercado precisa aprender com os erros recentes, especialmente em relação a valuations e gestão de capital. Muitas empresas queimaram dinheiro sem validar suas hipóteses ou criar bases sólidas de crescimento, o que gerou um impacto negativo na percepção dos investidores. Para os próximos anos, vejo um cenário de amadurecimento, onde tanto investidores quanto empreendedores serão mais criteriosos em suas decisões.
Thiago: E fora do trabalho, quais são seus hobbies?
Cibelle: Este ano comecei a correr, algo que foi muito incentivado pelo meu namorado e minha irmã. Apesar de não ser muito boa nisso, é uma atividade que estou aprendendo a gostar. Além disso, gosto de desenhar e pintar, mesmo que de forma amadora, porque é uma maneira de relaxar e explorar meu lado criativo. Acho importante ter momentos em que você faz algo só porque gosta, sem a pressão de ser bom ou entregar resultados. Esse equilíbrio é essencial para manter a cabeça no lugar.
Thiago: Qual mensagem final você gostaria de deixar?
Cibelle: Apesar do dinheiro que gerimos não ser diretamente nosso, é fundamental tratá-lo com extremo cuidado e senso de responsabilidade. O mercado de Venture Capital é desafiador e, muitas vezes, ingrato, mas a satisfação de ver um investimento dar certo, completar um ciclo e gerar impacto faz tudo valer a pena. É um setor que exige resiliência, aprendizado contínuo e, acima de tudo, uma postura ética e responsável em todas as decisões.