February 17, 2025
By Rafael Arakaki, EVCF Fellow
“Eu costumo dizer que foi como um relacionamento, tive que dar tempo ao tempo e fui me apaixonando aos poucos pela indústria, pelo venture capital. Percebi que gostava de trabalhar com founders, de interagir com esse perfil e explorar diferentes contextos, seja de founders ou indústrias.”
Filipe Garcia compartilhou sua jornada de estagiário a CEO da WOW, com mais de 12 anos no universo do Venture Capital. Nascido em Porto Alegre, Filipe começou sua jornada como estagiário na Wow em 2013 e, ao longo dos anos, passou por diversas funções – desde a aceleração até o gerenciamento de portfólio – até assumir a liderança da WOW em 2025. Nesta conversa, ele fala sobre os desafios, os aprendizados e a paixão por trabalhar com founders, além de destacar a importância do network e das trocas com a comunidade Emerging VC.
Rafael: Para começar, conte um pouco da sua trajetória: o que o inspirou a entrar em VC e qual foi o ponto de virada que o fez acreditar que era a carreira certa?
Filipe: Sou gaúcho nascido em Porto Alegre e, atualmente, morando em São Paulo. Minha trajetória começou na faculdade de Administração na UFRGS, onde me envolvi com empreendedorismo através da empresa júnior e foi meu primeiro contato com empreendedores. Em 2013, entrei como estagiário na WOW onde foi meu primeiro contato com o universo de startups. Naquela época, eu não tinha ideia exata do que era Venture Capital, mas trabalhar perto dos founders e ver a energia de transformar ideias em negócios me conquistou. Ao longo do tempo desempenhei diversas funções, desde a seleção de startups, programa de aceleração de investidas e portfólio ajudando as startups após o período de aceleração. Eu costumo dizer que foi como um relacionamento, tive que dar tempo ao tempo e fui me apaixonando aos poucos pela indústria, pelo venture capital. Percebi que gostava de trabalhar com founders, de interagir com esse perfil e explorar diferentes contextos, seja de founders ou indústrias.
Rafael: Filipe, você trilhou um caminho único – começando como estagiário e, recentemente, assumindo a posição de CEO. Se pudesse voltar ao seu primeiro dia em VC, que conselho daria a si mesmo, considerando toda a evolução e os desafios que enfrentou nessa jornada?
Filipe: Se eu pudesse voltar ao meu primeiro dia em VC, diria para mim mesmo que é fundamental mergulhar de cabeça nos fundamentos. Invista tempo em desenvolver esse stack de competências e habilidades – domine o básico, desde a modelagem financeira até a construção de um processo de dealflow eficiente e uma interação bem estruturada com os founders. Quem entra para trabalhar em VC, geralmente, é uma pessoa ambiciosa, que pensa grande e quer construir algo relevante e de impacto. Por isso, é importante equilibrar essa ânsia de inovar com um retorno aos princípios básicos sempre que necessário – um verdadeiro 'back to basics'. Em resumo, não tenha medo de experimentar e aprender com cada desafio, pois dominar as ferramentas essenciais e se mostrar como um profissional confiável é o caminho para colher grandes frutos na sua carreira. Cada obstáculo, por mais difícil que pareça, vai trazer uma lição valiosa que vai ajudar a evoluir e a se destacar no mercado de VC. No início, você vai acabar vestindo várias camisas, e essa experiência prática, mesmo que pareça caótica, é o que constrói uma visão ampla do negócio.
Rafael: Qual sua visão sobre o mercado de Venture Capital no Brasil nos próximos anos?
Filipe: Vejo o mercado de Venture Capital no Brasil em uma trajetória de amadurecimento, onde operar no caos sempre foi nosso modus operandi. Mesmo com os ciclos de instabilidade, esse cenário repleto de incertezas oferece inúmeras oportunidades para quem sabe navegar e identificar os momentos certos para investir. Uma tendência que se destaca é o fato de que os founders estão cada vez mais exigentes quanto à qualidade do capital – algo que já ficou claro nos últimos batchs da WOW, onde a excelência dos times surpreendeu positivamente. Essa evolução, aliada à demanda por investimentos de alta qualidade, reforça uma visão otimista para o VC brasileiro. Acredito que o mercado continuará amadurecendo e se consolidando como uma classe de ativos que atrai cada vez mais investidores.
Rafael: E fora do trabalho, quais são seus hobbies? Como que você está equilibrar o desafio atual curtindo a jornada?
Filipe: Fora do ambiente profissional, procuro manter o equilíbrio. Desde que me mudei para São Paulo, descobri o CrossFit, que tem sido fundamental para manter minha energia. Nos finais de semana, adoro explorar a cena gastronômica da cidade e sair com amigos – especialmente outros gaúchos que, como eu, estão longe de casa. Essas atividades ajudam a recarregar as baterias e me lembram que a jornada é tão importante quanto os desafios do dia a dia.
Rafael: Como as trocas com fellows do Emerging VC contribuíram para sua trajetória?
Filipe: As trocas com os fellows do Emerging VC foram realmente fundamentais para mim. Na época que comecei em VC não existia o Emerging que conectou, de forma brilhante, os profissionais dos fundos. Algo que, antes, era bem difícil de se acessar. Esse grupo me ofereceu uma rede de apoio e um espaço de aprendizado constante, onde pude discutir desafios e compartilhar experiências. Essas conversas me ajudaram a ampliar meu repertório e a entender que, mesmo em um ambiente tão dinâmico como o de VC, é possível crescer juntos e construir um ecossistema mais colaborativo.
Rafael: Qual mensagem final você gostaria de deixar?
Filipe: Eu gosto muito de uma frase que usamos na WOW: 'trabalho duro, inteligente com foco no longo prazo compensa.' Isso resume bem nossa realidade – ser uma aceleradora de startups raiz no Brasil, investindo cheques pequenos, de até 400 mil reais, logo no início, para ajudar a construir empresas de tecnologia relevantes. É uma jornada intensa, com muito trabalho, suor e desafios, mas as realizações fazem tudo valer a pena. Quando você ajuda um founder a dar aquele passo decisivo – seja fechando um exit ou levantando uma rodada de investimento – você tem uma história única para contar. Hoje, já contamos com 24 founders que passaram pela nossa aceleradora e se tornaram investidores da WOW. Esse mantra, que está profundamente enraizado no DNA da WOW, mostra que o esforço e a paciência no longo prazo realmente compensam.