January 28, 2025

Meet the Founder - Fred Amaral, CEO da Lerian

By Thiago Favero, EVCF Fellow

O setor financeiro ainda tem muito a evoluir, mas não nos mercados “mar aberto”, como criar outro Nubank ou Inter. O futuro está em soluções nichadas, ou seja, produtos que atendam necessidades específicas de segmentos bem definidos como, por exemplo, serviços adaptados para autônomos ou pequenos empreendedores, com funcionalidades que realmente resolvam suas dores.”

Formado em Economia pela USP após migrar da Engenharia da Computação, Fred construiu uma carreira em tecnologia e investment banking: começou a programar desde os 13 anos, passou quase uma década no BTG Pactual e atuou no Uber antes de ser um dos fundadores da Dock e iniciar sua carreira em Banking as a service. Atualmente é founder e CEO na Lerian, e tenta transformar mais um pouco o mercado de banking no Brasil, também com infraestrutura mas com ideias diferentes para o negócio.



Thiago Favero: Fred, obrigado por aceitar fazer essa entrevista. Você teve uma trajetória significativa no mundo corporativo antes de empreender. Pode compartilhar como suas experiências anteriores ajudaram na sua decisão de fundar a Lerian?

Fred Amaral: Minha jornada foi menos planejada do que parece. Comecei minha carreira em tecnologia bem cedo – vendi meu primeiro software aos 13 anos. Mais tarde, mudei de Engenharia da Computação para Economia na USP ao perceber o potencial do mercado financeiro, que estava em transformação com IPOs como o da Vale e da Petrobras. Foi uma mudança que abriu novas portas e ampliou minha visão sobre o impacto que eu poderia gerar.

No BTG Pactual, onde passei quase uma década, tive uma exposição intensa a projetos de alta responsabilidade, como M&As e captações de capital, o que me preparou para liderar meu próprio negócio. Foi uma experiência desafiadora, mas extremamente enriquecedora. Mais tarde, no Uber, conectei minha experiência financeira com tecnologia, criando a base para a ideia da Dock e, eventualmente, da Lerian, onde unimos infraestrutura bancária e inovação tecnológica.


Thiago Favero: Durante sua jornada, você viveu o “hype” das fintechs e viu de perto como elas foram cruciais para a bancarização no Brasil. Ainda há espaço para inovação no setor financeiro?

Fred Amaral: Com certeza. O setor financeiro ainda tem muito a evoluir, mas não nos mercados “mar aberto”, como criar outro Nubank ou Inter. O futuro está em soluções nichadas, ou seja, produtos que atendam necessidades específicas de segmentos bem definidos como, por exemplo, serviços adaptados para autônomos ou pequenos empreendedores, com funcionalidades que realmente resolvam suas dores.

Outro ponto importante é a infraestrutura, porque acreditamos que facilitar e otimizar a base sobre a qual as fintechs são construídas é um campo com muito potencial. Existem muitas oportunidades para simplificar processos, reduzir custos e permitir que startups financeiras inovem sem precisar reconstruir toda a base operacional.


Thiago Favero: Falando em infraestrutura, o conceito de ledger bancário é central para o que vocês fazem na Lerian. Pode explicar mais sobre isso e como impacta o setor?

Fred Amaral: O ledger bancário é o coração de qualquer core banking, sendo basicamente um banco de dados que registra todas as transações financeiras. Pense nele como o sistema que garante que o saldo da sua conta esteja sempre correto após cada transação.

Na Lerian, nosso diferencial é que construímos esse ledger como código aberto e modular. Isso significa que qualquer empresa pode acessar e adaptar nossa solução às suas necessidades: pequenas fintechs podem usar nosso código para ganhar agilidade, enquanto grandes instituições podem personalizá-lo para resolver desafios mais complexos. Essa abordagem democratiza a infraestrutura bancária e permite inovações em vários níveis.


Thiago Favero: Quais são os principais desafios que vocês enfrentam na Lerian hoje?

Fred Amaral: Um dos maiores desafios é educar o mercado sobre nosso modelo open source. Muitas empresas ainda têm dúvidas ou receios sobre utilizar soluções de código aberto, mas temos mostrado que isso aumenta a transparência, confiabilidade e a colaboração.

Outro desafio é construir uma plataforma altamente modular porque queremos que nossos clientes possam usar apenas os módulos que precisam, sem ficarem presos a um pacote fechado e isso requer uma engenharia robusta e flexível.

Por fim, nossa abordagem de precificação também é diferente e não cobramos por transações ou contas ativas, mas sim por uma assinatura mensal. Essa mudança exige um trabalho de reeducação do mercado, especialmente entre clientes enterprise, que estão acostumados a outros modelos.


Thiago Favero: Vocês captaram uma rodada seed significativa. Que dicas você daria para outros founders que estão nesse processo de captação? E qual a importância de escolher os investidores certos?

Fred Amaral: Minha principal dica é captar o mínimo necessário para validar sua tese e construir com calma porque as captações menores dão mais flexibilidade para negociar melhores termos em rodadas futuras.

Também é importante focar em investidores que vão além do capital e, no nosso caso, estávamos buscando por investidores que agregassem valor real ao nosso negócio, abrindo portas comerciais e facilitando conexões importantes com grandes clientes e parceiros. Essa rede de suporte é fundamental para startups B2B como a nossa, especialmente em um mercado tão competitivo.


Thiago Favero: Qual é o grande sonho do Fred para a Lerian e para sua própria jornada?

Fred Amaral: Meu sonho pessoal é empreender e ter como pilar a educação do mercado. Democratizar conhecimento é uma das minhas metas pessoais, principalmente educação em tecnologia, pois acredito que a tecnologia é um dos maiores motores de ascensão social e quero contribuir para que mais pessoas tenham acesso a essas oportunidades.

Para a Lerian, o objetivo é nos tornarmos um padrão de mercado em ledger open source, criando uma referência global para a guarda de informações financeiras e contábeis. Sabemos que é uma meta ambiciosa, mas é isso que nos motiva a continuar inovando e superando desafios.