March 17, 2025
By Rafael Arakaki, EVCF Fellow
"A maior lição que aprendi é que as pessoas geralmente não são motivadas somente por dinheiro, mas sim pelo propósito, pelo desafio e pelo brilho nos olhos. Compreender e valorizar essas motivações foi crucial para mim"
Com mais de 20 anos de experiência no mercado financeiro, Ingrid Barth fez a transição de carreira para empreender. Ingrid fundou e liderou a operação do Linker, banco digital PJ (voltado para pequenas e médias empresas), que foi vendido para a Omie em 2021. Atualmente em sua segunda jornada empreendedora com a Piloti, Ingrid foca no Open Finance. Além disso, foi presidente da Associação Brasileira de Startups (Abstartups), sendo a primeira mulher eleita, além de ter integrado o conselho deliberativo do Open Finance do Banco Central por quatro anos.
Rafael: Ingrid, você pode contar um pouco sobre sua trajetória profissional e como chegou até aqui?
Ingrid: Eu vim do mercado financeiro tradicional, trabalhei quatro anos no Santander e quase uma década no JP Morgan, que era meu sonho. Sou economista e estudei Engenharia Civil também, mas nunca atuei nessa área. O JP Morgan patrocinou meu MBA, e lá percebi que existia essa nova economia de startups e tecnologia, o que me levou a experimentar algo diferente. Em 2016, saí do JP, fiz um mini sabático pela Ásia, e fui encontrada pelo Banco Neon para liderar a conta digital PJ. Essa foi minha entrada no mundo das fintechs. Em 2018, conheci o Davi, cofundamos o "Linker" e vendemos para a Omie em 2021. Após o exit, decidi empreender novamente com o "Piloti", usando minha experiência com Open Finance.
Rafael: Quais foram os maiores desafios que você enfrentou e quais foram as maiores lições que aprendeu ao longo da sua carreira?
Ingrid: O principal desafio foi certamente a pandemia, especialmente pela preocupação com saúde mental, minha e do time. Outro grande desafio foi relacionado à gestão de pessoas, especialmente por não poder oferecer os melhores salários e precisar manter a equipe motivada em um projeto inicial, cheio de incertezas. A maior lição que aprendi é que as pessoas geralmente não são motivadas somente por dinheiro, mas sim pelo propósito, pelo desafio e pelo brilho nos olhos. Compreender e valorizar essas motivações foi crucial para mim.
Rafael: Para além do capital, como os investidores te ajudaram ao longo da jornada?
Ingrid: Muito. Investidores como Uri Levine, fundador do Waze, que atua como nosso advisor, ajudam enormemente trazendo bagagem e uma visão incrível. Mesmo tendo experiência, às vezes encontro problemas que parecem enormes, e o Uri consegue simplificar tudo rapidamente, mostrando o caminho correto. Esse apoio estratégico vai muito além do capital.
Rafael: Como você mede sucesso na sua jornada empreendedora?
Ingrid: Eu não meço sucesso por dinheiro, mas sim pelo impacto positivo que consigo gerar na vida das pessoas, sejam clientes diretos ou indiretos, ou minha equipe. Quanto mais impacto positivo, mais sucesso considero ter alcançado.
Rafael: Na criação da sua nova tese, quais foram os principais pontos que te nortearam?
Ingrid: O Open Finance. Minha paixão pelo tema e o potencial gigantesco que vejo nele guiaram nossa tese. Focamos em três pilares principais: melhorar a bancarização da população, democratizar o crédito através de dados, e melhorar a experiência do usuário com soluções mais práticas, como nosso MVP atual no WhatsApp, permitindo fácil gestão financeira.
Rafael: Na sua visão, quais tendências e oportunidades se desenham para o futuro do setor que está empreendendo?
Ingrid: A grande tendência que vejo é exatamente o que estamos fazendo: utilizar inteligência artificial e dados do Open Finance para criar produtos financeiros mais customizados e eficientes. Estamos focados especialmente em ajudar empresas não financeiras, como agro, varejo e microcrédito, a dar crédito mais inteligente e inclusivo, reduzindo inadimplência.
Rafael: Se você pudesse voltar ao seu primeiro dia como empreendedor, qual conselho daria a si mesmo para começar essa jornada de forma mais preparada?
Ingrid: Diria para ter mais calma, confiar no meu conhecimento técnico e não me culpar tanto quando algo der errado. Muitos problemas estão fora do nosso controle e isso faz parte do processo.
Rafael: Como você equilibra vida pessoal e profissional no seu dia a dia?
Ingrid: Não acredito em equilíbrio entre vida pessoal e profissional. Acredito que há fases nas quais algumas áreas demandam mais atenção que outras. Não separo claramente minha vida pessoal da profissional, mas tento sempre trazer leveza, fazer piadas, sair com amigos para aliviar a pressão e manter uma atmosfera positiva no meu dia a dia