December 8, 2024

VC Tech Stack Report - Luiz Amboni, Fellow e Analista de Aceleração na ACE Ventures

By Thiago Favero, EVCF Fellow

"Mais do que mapear ferramentas, o objetivo do report é provocar reflexões e incentivar as gestoras a pensarem de forma mais estratégica sobre seus processos. O Venture Capital no Brasil tem muito espaço para crescer, e isso passa por operações cada vez mais eficientes."

Luiz Amboni liderou o projeto do VC TechStack, um relatório que buscou mapear as principais ferramentas utilizadas por gestoras de Venture Capital no Brasil. O objetivo foi entender como essas soluções estão conectadas aos processos internos das gestoras e identificar oportunidades de melhorias. Durante a conversa, Luiz compartilhou insights sobre o projeto, tendências para o setor e como foi liderar um report tão relevante.


Thiago: Qual a importância do report para o ecossistema?

Luiz: A ideia do report surgiu da percepção de que a nossa comunidade de Venture Capital no Brasil tem muitas trocas informais sobre ferramentas. Todo mundo quer saber quais as melhores ferramentas para determinado processo da gestora. Com o setor crescendo, essas discussões começaram a ficar mais frequentes, e sentimos que havia espaço para consolidar essas informações.

O report ajuda a preencher essa lacuna. Ele não só mapeia o que as gestoras estão usando, mas também levanta questões importantes sobre a eficiência dos processos. Por exemplo, será que estamos aproveitando todo o potencial das ferramentas disponíveis? Será que existem soluções melhores para melhorar o fluxo de trabalho? Acredito que, além de ajudar as gestoras a se compararem, o relatório também serve como um guia para quem está começando ou quer rever suas estratégias.


Thiago: Quais foram os principais pontos que você destacaria no report?

Luiz: Um ponto interessante é a consolidação de ferramentas em áreas específicas, como deal sourcing, gestão de portfólio e pesquisa de dados. Por exemplo, CrunchBase e CB Insights são amplamente usados pelas gestoras, e ferramentas de CRM também têm boa penetração. Isso mostra que há um movimento claro para otimizar esses processos críticos.

Por outro lado, áreas como gestão de pessoas e comunidade ainda têm muita dispersão. Não há uma ferramenta padrão ou amplamente adotada, e muitas vezes os fundos não apresentam ferramentas para esses processos, o que pode indicar que essa parte está sendo negligenciada. Isso me chamou atenção, porque, enquanto o setor investe em tecnologia para fluxo de negócios, há menos foco em ferramentas que desenvolvem a indústria no médio/longo prazo. Será que isso não está impactando as carreiras no longo prazo? É algo que vale refletir.


Thiago: Teve alguma resposta que te surpreendeu?

Luiz: Durante a pesquisa, destacou-se a evolução do tech stack das gestoras de venture capital à medida que suas necessidades se tornavam mais complexas. Atualmente, muitas dessas gestoras ainda dependem de ferramentas manuais para gerenciar processos essenciais do dia a dia, o que evidencia um amplo potencial para a adoção de novas tecnologias. Para que as soluções, tanto as já existentes quanto as inovadoras, ganhem espaço no mercado de VC, é fundamental que ofereçam dados mais robustos sobre o mercado brasileiro e apresentem uma precificação ajustada às realidades locais.


Thiago: Quais tendências o trabalho apontou para os próximos anos em termos de ferramentas?

Luiz: Sem dúvida, o impacto da inteligência artificial foi uma das tendências mais discutidas. Embora o report tenha se baseado em dados principalmente de 2023, já conseguimos perceber que ferramentas baseadas em IA têm potencial para revolucionar áreas como deal sourcing, análise de dados e até mesmo gestão de portfólio.

Um exemplo interessante é o uso da IA para personalizar pipelines e identificar startups alinhadas às teses de investimento de forma mais rápida e precisa. Além disso, vejo muito potencial para a IA em atividades de research. Ferramentas que integram análise de dados em tempo real e aprendizado de máquina podem ajudar a trazer insights mais profundos e relevantes, reduzindo o trabalho manual e aumentando a eficiência.


Thiago: Onde você acredita que a inteligência artificial terá mais impacto?

Luiz: No curto prazo, acho que o impacto será maior em deal sourcing e CRM. A IA tem capacidade de processar grandes volumes de dados e encontrar padrões que um analista humano talvez não identifique tão rapidamente. Isso pode melhorar a qualidade das análises e até ajudar na triagem de startups para investimento.

Em research, também vejo uma grande oportunidade. Hoje, muitas vezes dependemos de ferramentas tradicionais para buscar informações sobre mercados e concorrentes. Com IA, acredito que conseguiremos ter relatórios muito mais direcionados, alinhados com as especificidades de cada gestora. Já em áreas como gestão de pessoas ou back-office, o impacto pode demorar um pouco mais para se concretizar.


Thiago: O bom e velho Excel ainda é bastante relevante?

Luiz: Com certeza! A pesquisa mostrou que ele e o Google Sheets continuam sendo amplamente usados, especialmente em áreas como gestão de portfólio e relatórios. Cerca de 50% das gestoras ainda usam o Excel para essas funções, e o Google Sheets aparece logo atrás, com 33% de adesão.

Eu acredito que o Excel vai continuar relevante por bastante tempo, porque é uma ferramenta muito flexível. Mesmo com a chegada de opções no-code como Airtable, o Excel ainda é a solução padrão para muita gente, especialmente quando o orçamento é menor ou quando os times já têm familiaridade com ele.


Thiago: Como foi inaugurar o report no Google Cloud Hub?

Luiz: Foi uma experiência bem interessante. Antes da apresentação do report, tivemos uma introdução institucional do Google, mostrando atualizações da suíte de produtos e novas funcionalidades baseadas em IA. Foi ótimo ver como o Google está evoluindo para atender às necessidades de back-office e gestão interna, algo que apareceu bastante no report.

Além disso, apresentar no hub foi simbólico, porque é um espaço que está se posicionando como ponto de encontro para o ecossistema de startups e investimentos. Ter a chance de conectar o conteúdo do report com um ambiente tão dinâmico foi muito bacana. Espero que isso inspire mais gestoras a aproveitarem esses espaços e pensarem em como integrar tecnologia de forma mais estratégica.


Thiago: Quer deixar uma mensagem final para os leitores da News?

Luiz: Acho que iniciativas como o report e a News são fundamentais para fomentar o diálogo dentro do ecossistema. Mais do que mapear ferramentas, o objetivo é provocar reflexões e incentivar as gestoras a pensarem de forma mais estratégica sobre seus processos. O Venture Capital no Brasil tem muito espaço para crescer, e isso passa por termos operações cada vez mais eficientes. Espero que o report ajude as gestoras a encontrar ferramentas que façam sentido para suas necessidades e, acima de tudo, que seja um ponto de partida para conversas mais aprofundadas sobre como podemos evoluir como setor.