December 8, 2024

Meet the Founder - Rodrigo Cava, Founder e CPO na Estoca

By Rafael Arakaki, EVCF Fellow

“Empreender é uma jornada solitária, especialmente no Brasil, onde o mercado de startups e venture capital ainda é muito jovem. Muitas vezes o empreendedor não quer só o conselho e conexões, o que me fez entender o valor de ter uma comunidade de apoio emocional, moral e até mental para quem compartilha desta jornada, que é cheia de altos e baixos”

Rodrigo Cava é um empreendedor movido pela paixão de compartilhar conhecimento e retribuir ao ecossistema. Com uma carreira que começou na área de computação, Rodrigo acumulou experiências como desenvolvedor, consultoria e gestão, o que levou a ter uma abordagem generalista em sua trajetória profissional.

Antes de fundar a Estoca, fez parte do time que lançou a Uber Eats no Brasil e depois na Rappi, onde vivenciou o dinamismo do mundo das startups e que despertou nele o desejo de empreender. Rodrigo fundou a Estoca em 2020 onde é responsável pela tecnologia e operação.

A Estoca é uma empresa que oferece soluções de logística para e-commerce, conectando armazéns com espaço ocioso a e-commerce que precisam terceirizar suas operações logísticas. Atualmente conta com ~115 colaboradores e mais de 120 clientes. A Estoca levantou US$ 6.1 milhões na sua última rodada (Série A) em 2023 e conta com Astella, Canary, Y Combinator, Marathon, e FJ Labs no seu captable.

Fora do ambiente de trabalho, Rodrigo é um entusiasta de novas ideias e um investidor anjo, sempre buscando maneiras de contribuir para o ecossistema empreendedor. Ele valoriza a importância de compartilhar conhecimento e experiências, acreditando que isso é fundamental para o crescimento e fortalecimento da comunidade de startups no Brasil.


Rafael: O que você acredita que foi essencial para fazer a sua startup dar certo?

Rodrigo: Um dos pontos mais críticos foi o relacionamento com meu sócio. Isso vai muito além de amizade. Você precisa ter conversas honestas, construir confiança e entender que tem um dever fiduciário com a outra pessoa em prol da empresa. Felizmente, esse não foi o primeiro negócio do meu sócio. Ele já havia passado por experiências difíceis, até falências, e trouxe aprendizados valiosos. Nossa relação forte e transparente foi uma das principais razões para a empresa funcionar.

Outro fator importante foi termos levantado pouco dinheiro no início. Na nossa primeira rodada, em 2020, levantamos apenas 300 mil dólares. Para aquele momento, parecia um bom valor, mas logo percebemos que outras startups estavam levantando milhões. Ainda assim, isso acabou sendo uma vantagem, porque nos forçou a sermos extremamente diligentes financeiramente. Quando o mercado começou a desacelerar em 2022, essa disciplina nos permitiu não só sobreviver, mas também levantar uma Série A no final do ano, enquanto muitos amigos e conhecidos estavam encerrando suas empresas. Ter menos dinheiro no começo nos ajudou a evitar erros e nos tornou mais estratégicos.


Rafael: Você acha que levantar pouco dinheiro no começo moldou a mentalidade de vocês de alguma forma?

Rodrigo: Com certeza. Quando você está no estágio inicial, como seed ou pre-seed, há muitas incertezas. Você ainda está entendendo o que realmente vai fazer, qual é o produto certo, o cliente ideal, e por isso, ter menos dinheiro pode ser positivo. Isso reduz as chances de investir em coisas erradas. Se você está financeiramente restrito, há menos espaço para jogar dinheiro na parede e ver o que gruda, como aconteceu no boom de startups entre 2015 e 2019.

À medida que fomos amadurecendo e encontrando o product-market fit, começamos a entender melhor onde fazia sentido alocar capital. Esse foi o momento de investir mais. Mas no início, a restrição financeira nos protegeu de decisões impulsivas e nos deu clareza para priorizar o que era realmente necessário. O que importa não é apenas a quantidade de dinheiro que você levanta, mas se você está levantando no momento certo para o estágio da sua empresa.


Rafael: Para além do capital, como os investidores ajudaram vocês ao longo da jornada?

Rodrigo: O papel dos investidores mudou muito ao longo da nossa trajetória. No início, eles nos ajudaram com coisas básicas, mas essenciais, como estruturar contabilidade e finanças, trazendo um nivelamento de expectativas e mostrando que o foco deveria estar em fazer um produto, resolver a dor do cliente e ser pago. Isso foi importante para não perdermos tempo montando áreas desnecessárias antes da hora, como um RH gigante ou uma estrutura financeira robusta que não fazia sentido para o estágio inicial.

Outra contribuição valiosa foram as conexões que eles facilitaram (rede de contato). Isso incluiu outros empreendedores no mesmo estágio, potenciais clientes e benchmarks de mercado, especialmente no setor de logística. Além disso, benefícios como descontos em serviços de AWS e Google Cloud foram essenciais para testarmos ideias com poucos recursos. Hoje, em estágios mais avançados, o que mais valorizo são os questionamentos estratégicos de longo prazo, como "onde você quer estar em 10, 20 anos?". Curiosamente, essas conversas mais visionárias vêm de forma recorrente de VCs americanos do que brasileiros.


Rafael: Como você mede sucesso na sua jornada empreendedora?

Rodrigo: Dinheiro é uma métrica importante, sem dúvida. Estamos em um mundo capitalista, e faturamento, valuation e outros números não podem ser ignorados. No entanto, esses indicadores têm um problema: você sempre vai se comparar com alguém que aparentemente está em uma situação melhor. Sempre haverá uma fintech que levantou mais dinheiro, ou um unicórnio que surgiu em semanas, e isso pode distorcer a percepção de sucesso.

Para mim, sucesso é atingir as metas que nós mesmos estabelecemos. Chamamos isso de "ambição consciente", que significa encontrar um equilíbrio entre metas ousadas, mas realistas. Por exemplo, crescer rápido é essencial para uma startup, mas também precisamos garantir que estamos construindo algo sustentável. Além disso, vejo sucesso como construir uma empresa que pode andar com as próprias pernas. No Brasil, onde o ambiente é desafiador, isso já é uma conquista enorme.


Rafael: O que você leva da sua jornada empreendedora para a posição atual de investidor?

Rodrigo: O principal aprendizado que levo da minha experiência como empreendedor é que o papel do investidor não é ser um sócio operacional. No início, eu achava que precisava estar o tempo todo em cima, ajudando em cada detalhe, quase como se fosse parte do time fundador. Mas percebi que o mais importante é estar disponível quando o empreendedor busca ajuda. O papel do investidor é ser um conselheiro confiável, alguém que traz perspectivas e questionamentos, mas que respeita o espaço do empreendedor.

Além disso, empreender é uma jornada solitária, especialmente no Brasil, onde o mercado de startups e venture capital ainda é muito jovem. Muitas vezes o empreendedor não quer só o conselho e conexões, o que me fez entender o valor de ter uma comunidade de apoio emocional, moral e até mental para quem compartilha desta jornada, que é cheia de altos e baixos.

Outro ponto é a empatia. Já estive do outro lado da mesa, sei como é lidar com pressões financeiras, incertezas e decisões difíceis. Isso me ajuda a ser mais compreensivo e estratégico ao trabalhar com empreendedores. No final, o que mais valorizo como investidor é poder compartilhar os aprendizados que adquiri como founder e ajudar outros empreendedores a superar os desafios que enfrentei.


Rafael: Já houve momentos em que você pensou em desistir?

Rodrigo: Já, muitas vezes. Os momentos mais difíceis foram aqueles em que minha relação com meu sócio estava abalada. Esses períodos exigiram muito diálogo e construção de confiança. Felizmente, saímos mais fortes dessas situações.

Outro momento complicado foi no início, quando eu estava me esforçando mais do que nunca – trabalhando 14, 16 horas por dia – e ainda assim parecia estar indo para trás. Era frustrante, porque eu vinha de uma trajetória onde esforço sempre gerava resultado e foi com o apoio da comunidade de empreendedores que consegui superar essa fase. Conversar com outros founders me ajudou a perceber que não estava sozinho e que essas dificuldades fazem parte da jornada.